sexta-feira, 26 de setembro de 2008

O “encolhimento” das populações do Japão e da Rússia (1° ano)

Por outro lado, cerca de 50 países, em sua maioria considerados desenvolvidos, como a Alemanha, Itália e Japão vão perder população até 2050. A Rússia representa um caso emblemático no que diz respeito à quantidade de população que o país está “perdendo” e ainda deverá perder. Se por exemplo, compararmos o “encolhimento demográfico” da Rússia e do Japão veremos que sua causa, dinâmicas e conseqüências são bem diferenciadas.Excetuando-se o período da Segunda Guerra Mundial, o Japão só começou a apresentar uma diminuição absoluta de sua população entre 2004 e 2005. A perda populacional nesse período foi de aproximadamente 20 mil habitantes. Essa diminuição já vinha sendo prevista desde a década de 1970 e tem como causas fundamentais a queda da taxa de natalidade a níveis muito baixos e o aumento da mortalidade.Possuindo um dos mais elevados padrões de vida do mundo, os casais japoneses têm cada vez menos filhos ao mesmo tempo em que a expectativa de vida é cada vez maior. Hoje o país está entre aqueles com maior participação de indivíduos idosos em relação à população total. Esse segmento etário é aquele mais suscetível a determinados tipos de doenças, especialmente gripes. Em suma, a diminuição numérica da população nipônica nada mais é que um dos sintomas do seu alto nível de desenvolvimento.O caso da Rússia é bem diferente. Primeiramente, a diminuição da população russa é mais antiga e muito mais expressiva numericamente falando que a japonesa. Nos últimos dez anos a população da Rússia encolheu em cerca de 10 milhões de indivíduos. Hoje ela é de 143 milhões e, mantidas as tendências demográficas, ficará reduzida a mais ou menos 100 milhões em 2050. As causas gerais dessa sangria populacional são a queda da natalidade, o aumento da mortalidade e a emigração.Na época da União Soviética, de maneira geral, os jovens casavam com pouco mais de 20 anos e logo tinham filhos. Hoje essa situação é adiada ao máximo. Mas, a natalidade é também contida, e muito, pelas dificuldades econômicas que se acentuaram após o fim da União Soviética (1991). A caótica transição para a economia de mercado levou à ampliação do desemprego, ao rebaixamento dos salários, ao déficit crônico de moradias, aumento do custo de vida e dos serviços de saúde. Segundo o Banco Mundial, 20% da população russa vive hoje abaixo do nível de pobreza, recebendo o equivalente à R$ 90,00 por mês.A elevada mortalidade na Rússia não está ligada aos efeitos decorrentes do expressivo número de idosos como no Japão. A singularidade reside na elevada taxa de mortalidade precoce entre indivíduos do sexo masculino, situação atribuída ao elevado consumo de álcool e tabaco e também pelas tensões geradas pelos problemas econômicos que o país vem atravessando. A guisa de comparação, a expectativa de vida de um russo é de 59 anos, enquanto a de um nipônico é de 79.

Cenários geopolíticos no Oriente Médio (3° ano)

Apesar da dinâmica e do entrelaçamento dessas questões, que têm ainda como pano de fundo o interesse internacional nas enormes reservas petrolíferas dos países do Golfo Pérsico e o avanço do extremismo islâmico, pode-se tentar levantar alguns pontos que, ao que tudo indica, deverão ter continuidade nos próximos anos.O primeiro deles é que os Estados Unidos continuarão a ser a potência com mais influência na região. Todavia, ela será menor do que já foi no passado, pois as políticas e estratégias norte-americanas para a região serão cada vez mais contestadas por outros atores da cena internacional, como a União Européia, a Rússia e a China.O segundo é que o Irã parece cada vez mais se firmar como um dos Estados mais poderosos da região em virtude não só da riqueza fornecida pelo petróleo, mas também porque sua influência tem se fortalecido no Iraque e junto a grupos como o Hezbollah libanês e o Hamas palestino.Já Israel, uma outra potência regional, tem dois grandes trunfos: o incondicional apoio dos sucessivos governos dos Estados Unidos e a posse de um arsenal nuclear. No entanto, continua sendo um “corpo estranho” numa região dominantemente árabe-muçulmana e não tem conseguido equacionar as relações com seus vizinhos árabes e muito menos buscar soluções satisfatórias com a população palestina. Esta situação representa um grande obstáculo para que se estabeleça um processo duradouro de paz na região.Por outro lado, a situação do Iraque deverá permanecer caótica pelo menos nos próximos anos, o terrorismo continuará atuante na região e o Islã persistirá preenchendo o vazio político deixado pelo fracasso de modelos sócios econômicos ocidentais implementados sem sucesso por alguns dos governos de países da região. De maneira geral, os regimes dos países árabes continuaram mantendo-se com grande grau de autoritarismo.Sob o ângulo econômico o petróleo, principal matéria-prima energética extraída na região, continuará apresentando preços cada vez mais elevados e, paradoxalmente, o comércio intra-regional permanecerá praticamente com pouca expressão.

Os biocombustíveis, o etanol e a fome no mundo (todas séries)

No primeiro caso, estão as preocupações de caráter ambiental que derivam da crescente busca para a redução de emissões de gases que aceleram o efeito estufa. Quanto aos governos, a segurança energética relaciona-se com a redução da dependência da importação de petróleo, bem cada vez mais escasso e cujos principais países exportadores encontram-se em regiões com freqüentes instabilidades políticas. É nesse contexto que a experiência brasileira no uso do álcool derivado da cana-de-açúcar desperta a atenção mundial. O Brasil está, há pelo menos três décadas, na vanguarda da corrida dos biocombustíveis, em decorrência não só da enorme quantidade de terras e recursos hídricos disponíveis, como também por seu domínio tecnológico na produção de cana, a mais importante das matérias-primas utilizadas para produzir açúcar, etanol e eletricidade de forma competitiva.A decisão dos governos dos Estados Unidos (EUA) e dos países da União Européia (UE) em pelo menos duplicar o seu consumo de biocombustíveis nos próximos anos não só acirrou inúmeros interesses, como também ensejou grandes polêmicas. Uma das principais polêmicas é aquela que discute o impacto que o crescimento das culturas agrícolas ligadas à produção de biocombustíveis causariam à produção de alimentos. De início deve-se ressaltar que a importância dos combustíveis de origem agrícola no mercado global de energia é pequena, visto não representarem mais do que 1% da produção de combustíveis fósseis. Mas, o crescente impacto do boom agroenergético tem afetado, de forma mais ou menos significativa, certos mercados agrícolas, especialmente o do milho, a principal matéria prima usada para produção de etanol nos EUA. A produção norte-americana do etanol já consome cerca de 20% do milho produzido no país e esta cultura vem avançando gradativamente sobre áreas de outros plantios, especialmente os dedicados à soja. Isso tem ocasionado aumento dos preços de certos produtos agrícolas e causado desequilíbrios na estrutura dos mercados agropecuários (especialmente os de rações), além de afetar as exportações (os EUA são os maiores exportadores mundiais).Já o impacto da expansão da agroenergia nos mercados agrícolas é muito menor em países como o Brasil, que produzem álcool a partir da cana. Mais eficiente que o milho ou qualquer outra cultura agrícola, a produtividade da cana é duas vezes maior que a do milho e seu custo de produção é 30% menor.Do total de terras aráveis do Brasil (aproximadamente 340 milhões de hectares), cerca de 2,0% são usadas para o cultivo de cana, metade delas dedicadas à produção de etanol. A cultura da cana deverá se ampliar nos próximos anos às custas das terras dedicadas ao plantio de soja (cerca de 6,0% das terras aráveis) e milho (3,2%) e também sobre as áreas de pastos que correspondem a quase 60% das terras aráveis. Mas, não há certeza que, em algumas áreas, a cana não possa se expandir em detrimento a algumas culturas alimentares. Daí, a ferrenha oposição setores da sociedade em relação a essa expansão.Estimativas para a safra de cana de 2007/2008 indicam que ela crescerá 15% em relação a de 2006/2007 e o aumento se verificará em quase todas as unidades federativas. Os estados que apresentarão o maior crescimento porcentual serão a Bahia (75,9%) e Tocantins (73,5%). Todavia, em volume, a produção de cana é bem concentrada. Cerca de 85% dela verifica-se no Centro-Sul, com destaque para São Paulo com aproximadamente 70% do total regional. O Paraná (porção norte), Minas Gerais (região do Triângulo Mineiro), Mato Grosso Sul (leste) e centro-sul de Goiás completam o quadro. Há estudos em andamento no Ministério da Agricultura no sentido de se estabelecer um zoneamento agroecológico do setor sucroalcooleiro cujo objetivo seria o de definir as áreas disponíveis para a ampliação da produção levando em conta não só os índices de produtividade, mas também os impactos ambientais e socioeconômicos dessa expansão.Os EUA e o Brasil são, nessa ordem, os maiores produtores mundiais de etanol, sendo os norte-americanos os maiores importadores do produto e nosso país o maior exportador. Todavia, o Brasil não possui as limitações de expansão de área cultivada como os EUA, já que a cana pode, a princípio, se expandir especialmente em áreas de cerrado, que tradicionalmente têm sido utilizadas para pastagens ou produção de soja. O Brasil, por exemplo, poderia produzir 132 milhões de litros de etanol, volume necessário para substituir 15% da gasolina nos EUA, com cerca de 30 milhões de hectares de cana-de-açúcar, o triplo da área atual de cana, porém apenas 10% da nossa reserva de pastagens.Se produzida com alta tecnologia, a agroenergia representa uma extraordinária oportunidade para os países subdesenvolvidos da América Latina, África e parte da Ásia. O Brasil, em particular, tem uma chance de ouro para estar à frente dos demais países no contexto global da bioenergia, buscando consolidar o álcool (e também o biodiesel) como commodities globais, produzidas de forma ambiental e socialmente correta.A expressiva alta dos alimentos nos últimos dois anos e a crise alimentar que vem afetando muitos países pobres como o Haiti, Burkina Fasso, Níger, entre outros levou vários especialistas ligados a organismos multilaterais como o Fundo Monetário Internacional (FMI), a afirmar que esses problemas, que poderiam se alastrar por outros países eram causados pela expansão dos cultivos dedicados a produção de biocombustíveis (o etanol em particular) em detrimento daqueles dedicados a alimentação humana. Na verdade, o problema tem como causas uma combinação de fatores que atuam de forma diferenciada em vários países. Genericamente seriam cinco os principais fatores que explicam, em termos mundiais, a situação atual. O aumento da produção de biocombustíveis e a manutenção dos subsídios agrícolas em países ricos, como os EUA e países da UE. O aumento dos custos da produção agrícola como decorrência do aumento do petróleo e dos fertilizantes. O forte incremento do consumo de alimentos por parte de países emergentes de grande população como são os casos da China, Índia, Brasil e México. A quebra de safras em vários países produtores de grãos cujo exemplo mais evidente é o da Austrália, atingida por secas prolongadas nos últimos anos. A crise financeira dos EUA que levou investidores a apostar em contratos de mercadorias, contribuindo também para o aumento de preços dos alimentos.
Marcos Augusto de Almeida, 35 anos.