quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

A crise em Gaza e a necessidade de criação do Estado Árabe Palestino

Sérios impasses travaram a possibilidade de um cessa-fogo imediato na Palestina, independentemente da possibilidade de mudanças na condução da política externa americana para o Oriente Médio com o novo presidente Barak Obama. A essa descrença, soma-se uma série de acordos e resoluções de paz descumprida por ambas as partes, especialmente por Israel, dado seu forte poderio bélico e suas ocupações arbitrárias ao longo de décadas. Quanto a esse aspecto relembremos alguns fatos.
A Guerra dos Seis Dias de 1967 com a ocupação de extensos nacos de territórios do Egito, Síria e Jordânia, ampliou a extensão territorial sobre domínio judeu forçando grande movimento migratório de árabes palestinos ao longo da fronteira.Em 1973 outro fato incendiou ainda mais a relação beligerante entre árabes e judeus, a Guerra do Yom kippur, como outras tantas vencida por Israel, trouxe sérios impactos econômicos como o inicio da especulação do preço do barril de petróleo.
Já nos anos 80, a Intifada assegurou a Israel o direito de usar com extrema força militar a ação de movimentos terroristas surgidos no seio de uma população insatisfeita, irritada e massacrada com a presença militar que restringia e sempre restringiu direitos e garantias individuais e coletivas fundamentais do povo palestino. Ilustra-se esse exemplo, o massacre no sul do Libano em 1982 na tentativa de minar a força palestina pela sua mais forte representação política e social, a OLP (Organização para Libertação da Palestina) atualmente intitulada AP – Autoridade Palestina.
No recente massacre da Faixa de Gaza, as autoridades de Israel utilizam o já enfadonho discurso de que a melhor forma de se defender das ações do Hamas e dos demais grupos terroristas é usando a tática da "melhor defesa é o ataque" e ai, promove como vimos agora enorme saldo de carnificina ao qual não escapou da precisa mira dos potentes caças de Israel, crianças, mulheres e velhos. Outra legitimidade tola utilizada no discurso de Tel Aviv é o controle do espaço aéreo, terrestre e litorâneo do território palestino como medida de sustentação de intimidação da ação terrorista.
Independentemente da condução da política externa de Washington em um novo mandato, o certo é que após a grande e intolerante ofensiva israelense sobre a Faixa de Gaza durante o início de 2009, conclui que as principais lideranças mundiais devem deixar o discurso e partir para a prática quanto ao assunto da necessidade de criar um estado palestino.
Da mesma forma, o saldo do Holocausto da 2° Guerra, instigou o mundo a ser favorável a criação de um lar para a grande nação judaica, durante a segunda metade dos anos 40, quando da criação do até então novo organismo multilateral – a ONU, representada pela sua instância máxima a Assembléia Geral, teve dentre uma das primeiras resoluções de suma importância a discussão do Plano de Partilha da Palestina com uma divisão assimétrica que, do mais favoreceu enormemente os judeus.
E agora, após assistirmos por via satélite em tempo real o massacre da ação de Israel sobre a Faixa de Gaza, a diplomacia mundial vai ficar literalmente na diplomacia. E o governo brasileiro, que até então se manifestou de forma muito tímida, observando o grau de importância do país na atual cena global, visto que agora não somos apenas um telespectador, já podemos dispontar como atores (vide a punjança dos indicadores econômicos do país) em importantes decisões. Deve a política externa brasileira ter posição concreta, logicamente favorável a criação de um estado árabe palestino, como assim fez o saudoso diplomata brasileiro Oswaldo Aranha que teve papel fundamental durante o processo de formação da nação de Israel em 1948.

Um comentário:

Anônimo disse...

Professor Marcos,

De início, em contribuição a sua matéria, gostaria de lembra-lo que o termo correto na frase "...ampliou a extensão territorial sobre (sic) domínio judeu..." deveria ser SOB e não SOBRE. Na frase "...vide a punjança (sic) dos indicadores econômicos do país" a grafia adequada é PUJANÇA.

Agora, quanto ao mérito, desejo, a princípio, concordar com o seu artigo quanto a infelicidade de tantas vidas que se perdem nesse conflito entre irmãos. Se houvesse menos intolerância e radicalismo de ambas as partes e mais diálogo e altruísmo, há muito já não se falaria de conflito no oriente médio. Infelizmente, isso não ocorre em qualquer dos lados. Acredito que esse aspecto seja consensual para quem conheça, no mínimo superficialmente, esse antagonismo histórico.
Haja vista que não visualizamos em um breve futuro essa pacificação tão almejada, devemos, pelo menos, discutir a questão de forma coerente e, se possível, não passional, o que acredito não tenha ocorrido na sua abordagem, senão vejamos:
Quando você diz que acordos e resoluções de paz são "descumprida por ambas as partes, especialmente por Israel, dado seu forte poderio bélico e suas ocupações arbitrárias ao longo de décadas" parece enfatizar que, sendo Israel melhor dotado militarmente deveria assistir, impávido, a todo tipo de provocação e destruição que o Hamas causa aos judeus. Considerar as ocupações que Israel empreendeu em resposta a guerras provocadas pelo mundo árabe unido arbitrárias é fechar os olhos para a séria ameaça de extinção e destruição do estado judeu que sofre com essas tentativas árabes desde o seu nascimento em maio de 1948. Ao citar a Guerra dos Seis Dias, a Guerra do Yom Kippur e a Intifada, você ignora o fato de que são atos de defesa praticados por um estado seriamente atacado por forças árabes. O estado judeu atual que se apóia em fortes e eficientes armamentos talvez tivesse aplicado todo esse empreendedorismo na agricultura, na indústria e no desenvolvimento com muito mais afinco capazes de beneficiar a si e aos palestinos e árabes que o cercam se não tivesse sido levado a uma situação extrema de lutar pela própria sobrevivência frente a inimigos tão intolerantes e raivosos como o eram aqueles que provocaram todas essas guerras já citadas. Talvez, o caos, o atraso e a miséria que atinge os palestinos de hoje não fosse sequer imaginado por um estado palestino desenvolvido e próspero decorrente de uma relação harmoniosa e cordial com os judeus responsáveis pela criação de Israel nos idos de 1948 como é o caso da Jordânia que, após efetivar acordo de paz com os vizinhos judeus, tem se beneficiado de muito do que a tecnologia e conhecimento desses últimos é capaz de fazer, e tem se desenvolvido imensamente. Mas, ao contrário do que pregava o nosso “amigo barbudo” na campanha presidencial brasileira de 2002, a esperança não venceu o medo e o medo tem dado lugar ao terror e ao terrorismo naquela região desde então. Daí, também, não se pode aceitar a citação da OLP como representação política e social, meramente, dos palestinos. Ela foi, antes de tudo, uma organização terrorista responsável por muitas vítimas inocentes. Bem está que, posteriormente, Yasser Arafat rendeu-se à sensatez da negociação política, mas não era assim originariamente.
Agora, a pobreza dos palestinos não lhes dá o direito de atacar impunemente aos judeus que vivem do outro lado da fronteira, como meninos rixosos que não suportam ver a prosperidade do outro. A pobreza dos palestinos não lhes dá o direito de abrigar terroristas que se escondem atrás de escudos humanos para atingir, com foguetes, israelitas que vivem do outro lado. A pobreza dos palestinos não obriga o estado de Israel a assistir passivamente esses atos de provocação e morte. Entender como “enfadonho” o discurso do governo israelita de que a “melhor defesa é o ataque” é abster-se de qualquer consideração favorável aquelas famílias e vidas que estão se perdendo ou sendo destruídas pela chuva de foguetes que o Hamas tem disparado diariamente contra as mesmas. Talvez não o fosse tão “enfadonho” se você estivesse no meio daquele temporal.
Quanto ao fato do isolamento aéreo, terrestre e marítimo do território de Gaza, imaginemos que tipo de armas seriam essas que os terroristas conseguiriam ali implantar, haja vista que, a despeito de tamanho bloqueio os mesmos ainda conseguem dispor dos imprecisos, porém danosos, foguetes e armamentos com os quais realizam os seus ataques!
Definitivamente, professor, não se deveria ignorar esses fatos. Fazer uma defesa açodada dos palestinos e ignorar que Israel nunca quis qualquer guerra, mas as empreendeu apenas na tentativa de subsistir, é negar o papel que um educador deveria desempenhar dentro das nossas escolas: o de transmitir o conhecimento na sua forma ampla, total e verdadeira, visto que sois discipuladores de mentes e corações que merecem um tratamento, no mínimo, isento, idôneo e verdadeiro.
Bom seria, e torço para que cheguemos a isso, se pudéssemos conviver com a realidade de uma relação amigável entre aqueles povos, de comum origem, mas enquanto esse dia não chega, melhor contribuiremos se cada um de nós se posicionar na direção da verdade e, uma vez nela, não ignorar que os erros de ambos os lados devam ser não perseguidos ou mesmo justiçados, mas usados como exemplos ruins que devem ser abandonados e esquecidos se se quer apaziguar aqueles corações.